Escrevi
na quinta-feira um post sobre um processo a meu ver absurdo que o Ministério
Público move contra o pastor Silas Malafaia. Expliquei ali o contexto. Quando,
em junho do ano passado, a passeata gay caracterizou 12 modelos como santos
católicos e os levou à avenida para representar situações “homoafetivas”,
Malafaia, em seu programa de TV, acusou a agressão à crença de milhões de
pessoas e afirmou: “É para a Igreja Católica entrar de pau em cima desses
caras, sabe? Baixar o porrete em cima pra esses caras aprender. É uma
vergonha!” Explico naquele texto por que é absurda a afirmação de que se trata
de incitamento à violência: 1) católicos, enquanto católicos, não agridem
ninguém (ao contrário até: vivem sendo moralmente agredidos); 2) o pastor não é
um líder daquela religião, por óbvio, e não teria como incitar aqueles que
estão fora de seu campo de influência. Obviamente, falava de modo metafórico,
opinava em favor de uma reação da Igreja — que, diga-se, ficou bem murchinha…
O post já tem mais de 700
comentários — e devo ter deixado de publicar outro tanto de pessoas que se
manifestam com impressionante rancor. Ou, então, que deixam claro não saber
como funciona a democracia. Olhem aqui: eu não dou bola para correntes da
Internet, não! Zero! Não me intimido com trabalho organizado de lobbies. Penso
o que penso. Se gostarem, bem; se não, a Internet conta com milhões de páginas
pessoais. Por que ficar sofrendo na minha? Posso não pensar sobre a
homossexualidade o que pensa Malafaia — embora, creio, façamos crítica muito
parecida à tal lei que pune a homofobia: é autoritária, fere a liberdade
religiosa e cria uma categorias de indivíduos acima da crítica.
Muito bem! E daí que eu não
pense o mesmo? Devo silenciar diante de uma óbvia tentativa de calá-lo, ao
arrepio, parece-me, da lei? Sim, a Justiça vai decidir, mas posso e devo dizer
o que acho. Acho que estão recorrendo a uma óbvia linguagem metafórica com o
propósito de se vingar de um notório crítico da dita Lei Anti-Homofobia.
Entendo que estamos diante de um caso clássico de uso da lei para intimidar ou
calar aquele que pensa de modo diferente.
Os grupos do sindicalismo gay
fazem uma enorme pressão para que ele seja punido. Venham cá: que parte da
cultura democrática essa gente não entendeu direito? Então eles podem pegar
símbolos de uma denominação cristã, que têm valor para mais de um bilhão de
pessoas, submetê-los a uma, como posso dizer?, “interpretação livre”,
mudando ou mesmo invertendo seu sentido moral, mas um líder religioso deveria
ser impedido de dizer o que pensa?
Calma
lá! É a liberdade de expressão como um valor universal que permite hoje a essas
ditas minorias, a esses grupos de pressão, falar, reivindicar etc. O que
querem? Coibir a dita homofobia metendo na cadeia quem não comunga de seus
valores? Já assisti, em vídeos na Internet, a algumas intervenções de
Malafaia na TV. Em nenhuma delas incitava a violência — e duvido que o
faça. Ninguém pode obrigá-lo a renunciar à sua fé e aos fundamentos de sua
crença. Tampouco me parece decente que se recorra a um truque para tentar
condená-lo. Querem lhe atribuir o que não
disse - e que, de fato, seria ilegal - para tentar puni-lo pelo que disse. E
que nada tem de ilegal.
Isso, reitero, não quer dizer
que eu concorde com ele sobre esse e outros temas. Aliás, ele é evangélico; eu
sou católico. Isso significa… divergência!!! Mas não vou condescender com esses
que se querem agora policiais do pensamento. Ora, de beneficiário da liberdade
de expressão, o sindicalismo gay quer passar agora à condição de repressor, de
censor? Não dá!
Também não vale o artifício de
fazer eternamente o papel do oprimido para oprimir os outros. Estou entre
aqueles que acreditam que há tantos gays hoje (percentualmente falando) como
sempre houve. Uma coisa, no entanto, é certa: a cultura gay nunca foi tão
forte, e essa minoria nunca foi tão visível e influente. Virou, por exemplo,
pauta obrigatória das novelas — ainda que o tratamento dispensado pelos autores
varie bastante. Se notarem, são sempre personagens “do bem”. Uma malvadão gay
seria “contra a causa”. Ignorando a letra explícita da Constituição, o STF
reconheceu a união estável homossexual, o que praticamente garante os demais direitos
— agora é só questão de ajuste da legislação infraconstitucional.
E tudo isso se deu sem uma lei
para punir opiniões divergentes. A militância gay não conseguirá mudar na base
do berro, da imposição e da perseguição jurídica o entendimento das igrejas a
respeito do assunto. Recorrer a truques para punir desafetos, que estão
amparados pela liberdade de pensamento e pela liberdade religiosa, é coisa de
autoritários. O combate à homofobia não pode ser “catolicofóbico”,
“evangelicofóbico”, “diferentofóbico”.
Afinal, qual é a pauta?
Reivindicam direitos iguais ou direitos especiais, muito especialmente o de
calar aqueles de que discordam?
Finalmente,
lembro que as igrejas são pessoas jurídicas de direito privado. Isso,
evidentemente, não dá a padres, pastores ou a quaisquer outros líderes
religiosos o direito de cometer crimes — e entendo que não tenha havido isso no
caso de Malafaia. Faço essa lembrança pensando num outro aspecto.
Líderes
religiosos, ainda que possam e devam se posicionar sobre temas gerais da
sociedade, sabem que falam principalmente para os fiéis de sua igreja. Daí que
seja absolutamente ridículo querer impor às igrejas uma crença oficial ou um
conjunto de valores definido em alguma outra esfera, que não a religiosa.
Atenção! Isso vale até para a ciência. Uma igreja significa isto: um grupo de
pessoas decidiu se reunir para cultivar determinados valores e cultuar aspectos
do sagrado. Ponto!
Muito
bem! Malafaia recorreu àquela metáfora, incorporada, convenham, à fala popular.
Mas o que dizer de José Eduardo Dutra, o diretor da Petrobras que mandou um
“enfia o dedo e rasga” para a oposição? A Petrobras não é uma igreja. A
Petrobras tem uma dimensão pública. Este senhor foi nomeado pelo governo e está
lá para atender aos interesses de todos os brasileiros: petistas e não
petistas; cristãos, não-cristãos, ateus e agnósticos; corintianos e
palmeirenses; botafoguenses e não-botafoguenses…
Sobre
a fala de Dutra, até agora, curiosamente, o Ministério Público Federal não se
manifestou.
Que
regra está valendo? Seria aquela dos estados autoritários, que resumo assim:
“Aos inimigos, nada, nem a lei; aos amigos tudo, menos a lei”?
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